Página Inicial Notícia

SAÚDE MENTAL 17/05/2016 Na semana do Dia Nacional da Luta Antimanicomial, a gestora do Centro de Atenção Psicossocial fala sobre sua vida e trabalho na unidade

Na semana do Dia Nacional da Luta Antimanicomial, a gestora do Centro de Atenção Psicossocial fala sobre sua vida e trabalho na unidade

No dia 18 de maio é comemorado o Dia Nacional da Luta Antimanicomial, relacionada ao movimento formado na década de 80, que busca desde então, os direitos das pessoas com sofrimento mental. Uma das medidas adotadas foi a de transformar os hospitais psiquiátricos tradicionais em centros que possam dar atenção diversificada aos atendidos.

Para marcar a data, a prefeitura realiza nesta quarta-feira (18), várias atividades, na Praça da Vila Ramos, a partir das 9h.

No local, estarão reunidos os usuários do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), da Unidade de Saúde Mental e Reabilitação (USMR), que são equipamentos que compõem os centros de atendimento da saúde mental de crianças, jovens e adultos. Lá eles participarão de aula de zumba, capoeira e vôlei adaptado.

O CAPS de Franco da Rocha, foi fundado em 2014, e busca integrar os pacientes ao meio sociocultural e fornecer apoio ao público infantil e adulto, além de auxiliar pessoas com problemas com álcool e outras drogas.

O Centro de Atenção Psicossocial de Franco, tem como gestora, a psicóloga, Ana Paula Batagin, que em entrevista, contou um pouco de sua história e falou sobre seu trabalho na unidade. “ Nosso município teve seu primeiro CAPS agora em 2014, graças a iniciativa dessa gestão municipal que teve a visão inovadora em saúde mental e vem tornando realidade essa política pública moderna e acolhedora”, pontua Ana Paula.

Confira abaixo a conversa na íntegra.

Quem é Ana Paula?
Sou psicóloga, professora de francês e, há um ano, gestora do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS).

Quais as suas experiências profissionais?
Trabalho no SUS há dez anos como psicóloga concursada. Durante 6 anos, trabalhei em Capivari, e agora, há 4 anos, em Franco da Rocha, cidade pela qual sempre tive grande fascínio devido a sua história singular de crescer em volta de um dos maiores hospitais psiquiátricos do século XIX. Em Franco da Rocha trabalhei com deficientes intelectuais na USMR (Unidade de Saúde Mental e Reabilitação); com pessoas vítimas de violência sexual e doméstica na Praça da Saúde (COAS) e agora trabalho gerenciando o CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), serviço pioneiro no atendimento a pessoas com sofrimento psiquiátrico. Coincidência ou não, meu fascínio pela história da loucura em Franco da Rocha me levou a trabalhar justamente no primeiro setor municipal de cuidados substitutivos ao hospital psiquiátrico.

Como surgiram os CAPS?
Fazendo um recorte histórico, os CAPS se tornaram lei federal a partir de 2001 com a aprovação da lei 10.216 que dispõe sobre a proteção dos direitos das pessoas com sofrimento mental. Os CAPS são equipamentos do SUS que substituem a forma de tratamento dos hospitais psiquiátricos, onde se predominava a exclusão social e o isolamento e propõe um meio aberto, acolhedor e comunitário. As modalidades de CAPS surgem como resultado da Reforma Psiquiátrica, movimento que começa no final dos anos 70 pelo descontentamento de profissionais de saúde mental, pacientes e seus familiares, com a forma de tratamento nos hospitais psiquiátricos e manicômios do país. Essas modalidades de CAPS, que funcionam separadamente, são para atendimento do público adulto com transtorno mental (que é esse onde estou), para atendimento infantil e para atendimento a pessoas com problemas abusivos de álcool e outras drogas.

A quanto tempo está na unidade?
O CAPS onde trabalho foi inaugurado em 28 de novembro de 2014. Esse ano fará 2 anos de existência.

Quais trabalhos importantes já realizou na unidade?
Lidamos com vários usuários do serviço que tem histórico de sucessivas internações psiquiátricas e crises. Quando essas internações cessam, melhorando suas condições de vida, seja com a conquista de um benefício a que tem direito pela assistência social, seja por uma maior organização interna devido ao exercício dos vínculos afetivos e sociais, não tem ganho mais importante que esse. O usuário (não mais “paciente” como no hospital) precisa perceber que pertence a uma cidade, que ele pode usufruir como qualquer outro cidadão, utilizando os serviços do território onde vive: saúde, cultura, esporte e educação. Conquistamos isso junto a alguns usuários e acredito que seja o mais importante. A cidade como espaço de promoção de vida e não como causadora de isolamento social. Já realizamos exposições de quadros de usuário para visitação dos CRAS entre outros visitantes, campeonatos de futebol com outros CAPS em Campinas, campeonatos de futebol com a USMR, Carnaval no Centro Cultural com os CRAS, APAE e USMR.

Qual a importância do seu trabalho para a cidade?
Para a cidade esse serviço tem importância no sentido em que dá continuidade e, de certa forma, reescreve a história de cuidados em saúde mental desse público que justamente cresceu com a cidade de Franco da Rocha, o público com sofrimento mental no passado abrigados no Hospital do Juquery. Com o processo de desinstitucionalização iniciado com a Reforma Psiquiátrica no final de 70, os leitos em hospitais psiquiátricos foram diminuindo e foi se instituindo a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Um dos equipamentos da RAPS é o CAPS. Nosso município teve seu primeiro CAPS agora em 2014, graças a iniciativa dessa gestão municipal que teve a visão inovadora em saúde mental e vem tornando realidade essa política pública moderna e acolhedora da RAPS. A cidade também se beneficia no momento em que se torna esse território promotor de vida que falei acima. Nosso trabalho é garantir e proteger a cidadania dessas pessoas com transtorno mental, fazendo com que elas possam voltar ou existir no convívio social. A cidade ganha com a aceitação dessa diversidade humana.

Texto: Lucas Cardoso. Foto: Jorge Henrique